sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Luz, quero luz

Dizem que estas foram as últimas palavras de J.W.Goethe. Pediu que abrissem as cortinas para que ele visse a luz. Aqui uso a frase para contar nosso périplo para conseguir luz artificial, energia elétrica.

Como pode se ver na foto acima, já tínhamos boas conquistas na Areia Preta: ao lado direito pode se ver a pequena torre com a caixa d´água, ao centro, a casinha e à esquerda dela, um poste ainda sem fios naquele momento.

Para se chegar a esse poste, mesmo que ainda sem fio, foi um sufoco. Começamos a reunir os vizinhos. Alguns mais mobilizados e interessados, outros nem tanto. Contratamos uma empresa que faria um projeto e o levaria à companhia de energia elétrica para que esta o aprovasse.

Toda a iniciativa era privada - naquele momento a companhia elétrica era estatal - ficando por nossa conta contratar a empresa, pagar pelo projeto, comprar postes, fios, transformadores e pagar pela instalação de tudo isso. À empresa de energia caberia apenas colocar o medidor de consumo e começar a cobrar as tarifas.

Aprovado o projeto apresentado, a contratada começou a colocar os postes. Por economia o trajeto da fiação acabou passando por cima de alguns sítios, inclusive o Areia Preta, o que iria trazer transtornos no futuro. Mas naquele momento, pelo alto preço da empreitada, não poderia ser diferente. Para que a fiação percorresse a beirada da estrada necessitaria muitas curvas e isso implicaria em mais e mais postes. Quanto mais caro, menos sitiantes se dispunham a entrar no consórcio.

Muitas pessoas não quiseram participar desse esforço coletivo e, por conta disso, outras foram prejudicadas, apesar de estarem engajadas no processo. Essa foi nossa primeira experiência de ação coletiva na área. Não foi fácil e mostrava que o conceito de que a união faz a força não era muito conhecido de boa parte das pessoas que estavam se instalando por ali.

Por outro lado, aqueles que participaram com força e dedicação se transformariam em amigos verdadeiros, parceiros na construção daquele desejo que movia todos que estavam por ali: ter um lugar gostoso, bonito, confortável, seguro e tantas outras qualidades que buscávamos com aquele empreendimento.

Um dia abandonamos os lampiões - que saudades deles - e acendemos a luz, ligamos o chuveiro, tocamos música e fizemos muitas outras coisas que só a energia elétrica pode proporcionar. Mais um ganho civilizatório, para o bem e para o mal.

As noites nunca mais foram escuras, as estrelas ficaram um pouco prejudicadas, os pássaros, sapos, rãs e cigarras passaram a competir com a música sertaneja que animava os churrascos na vizinhança.

Nós, ali no Areia Preta, tentávamos não ser tão invasivos... Tentávamos, mas não sei se conseguíamos tanto assim.

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