quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tá chegando a hora

Vamos ver a oferta galinha morta


Era um dia de abril de 1991.
Devemos ter saído cedo. Se é que se pode chamar 9 da manhã de cedo, mas deve ter sido mais ou menos isso. A indicação era que os corretores estariam no quilômetro 172 da estrada. Longe isso, hein?! Pé na estrada. Andamos e andamos. Como sempre, a primeira vez que se vai a algum lugar é sempre muito longe, em especial quando tudo é novo. E chovia, como chovia!

Quando foi ali pelo km 100 vimos faixas com o nome da empresa que estava em nosso recorte de jornal. Ali eles também anunciavam terrenos à venda num loteamento à beira da estrada. Mas ainda faltavam 70 km, segundo o anúncio que trazíamos. Paramos, perguntamos e confirmaram: sigam em frente, vocês já estão próximos, nosso pessoal está por lá esperando vocês.

Chovia muito (eu já disse isto?) e naquele mês tinha sido uma constante. Era o começo de outono mais úmido dos últimos tempos. Aquilo lá era clima para se procurar um lugar para se ter uma casa de campo? Mas fomos seguindo assim mesmo, a curiosidade e a vontade eram maiores que a quantidade de água que caia do céu.

Chegamos ao quilômetro 172. Havia uma construção de tijolinho à vista na beira da estrada. Quer dizer, não era lá muito na beira da estrada, ficava a uns 200 metros da pista e o caminho até lá era um barro só. Uma grande faixa apontava para o barzinho, indicando: Corretores de Plantão aqui. E eles estavam mesmo lá, escondidos da chuva. Provavelmente naquele dia não tinham vendido um único terreno; talvez nem sequer tivessem atendido um interessado. Quem se arriscaria a se abalar de São Paulo até ali, 172 quilômetros de chuva, para ver aquilo?

O carro chegou, com algum esforço, até a beirada do lugar. Pulamos todos de dentro dele, enfiamos o pé na lama e corremos para o boteco, fugindo da chuva que despencava. Será que tinha algo para comer, ao menos isso? Sim, tinham pastéis, fritos na hora, em óleo quente e duvidoso. Quase todos pedimos de queijo pois era, críamos, mais seguro que o de palmito ou de carne. Comemos aquela coisa e repetimos. Fosse o que Deus quisesse. Como é bom comer quando se tem bastante fome, tudo fica mais fácil. A frescura vai a zero.

Chegamos perto de um corretor que estava encostado na beira do balcão e informamos: viemos ver o terreno do anúncio no jornal. O cara não acreditou. Deve ter pensado: ufa, até que enfim um cliente, vou salvar meu dia!

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