quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um bom lugar para as plantas

As plantas aprisionadas no apartamento
encontraram um novo lugar para viver


Vá lá saber como tudo começou.
Isso pode ser contado de diversos tamanhos. Podemos começar, do meu lado, por Piraporinha. Lugar de fato onde nasci. A Capital só aparece na minha certidão de nascimento por não ter, à época, maternidade em São Bernardo do Campo. Em Piraporinha, à época um bairro afastado e rural de São Bernardo, morávamos numa chácara, cercados de outras chácaras por todos os lados. E ali eu construí as bases do meu gosto por lugares abertos, livres. Da parte de K, pelo que sei, a coisa veio dos tios, ainda que ela seja paulistana da gema, sempre viveu rodeada de plantas e bichos e gente que gostava disso. Assim ela conta. Escolhi esse resumo para pular para o início da busca por uma chácara para chamarmos de nossa.

Nosso apartamento vinha, ultimamente, tomando ares de floresta. Metade da sala já estava lotada de plantas, alinhadas ao lado da janela, disputando a luz do sol enquadrada pelo caixilho. Tanta era a vontade de ter plantas e mais plantas que estávamos quase abdicando de boa parte de nossos poucos metros quadrados para elas. Ali havia de tudo um pouco e em especial violetas, quase uma centena delas. Mas também tínhamos rendas portuguesa e francesa, eugênia, ficus, schefflera, palmeira carioba, palmito, árvores da felicidade, begônia, ciclamem, caladium, amarílis, bonsais de matsu e érica e tantas outras. Da sala elas já avançavam pela área de serviço, o quarto e onde houvesse um pouco de luz natural.

K. começou a falar de ter um sítio ou coisa parecida. Começamos a ir a algumas chácaras de amigos, como a de uma cantora lírica, nossa amiga; a de Z., em Itatiba, era outro lugar que íamos e que fazia nossos desejos se alvoroçarem. Também fomos costumeiramente no sítio de um produtor de bonsais - Sr. Carlos - japonês vendedor de plantas do CEASA, onde K. o conheceu. Ele morava em Suzano e depois mudou-se para a área rural de Atibaia. Íamos lá para ver sua fantástica coleção de bonsais, alguns deles vindos do Japão, de seus ancestrais. Ali compramos alguns exemplares que passaram a viver em nossa casa. Nos encantamos com o trabalho do velho oriental naquele pequeno pedaço de terra.

Mais ou menos no final de 1990, início de 1991, começamos a procurar efetivamente um terreno para comprar. Vimos algumas propriedades em Atibaia, outras em Ibiúna e até mesmo na estrada que liga Ubatuba a Parati, onde nos ofereceram um terreno dentro de uma reserva indígena e de onde de avistava, imenso, à frente, o Atlântico. Não tivemos coragem de comprar, mas que seria fantástico, isto seria.

Algo parecido aconteceu quando passeávamos pelo sul da Bahia. Foi em Cumuruxatiba, lugar maravilhoso, ao sul de Trancoso, ainda pouco conhecido e de poucos turistas. Ali nos ofereceram um imenso terreno - um alqueire baiano, 96,8 mil m² - que ficava a um quilômetro da praia, tomado por mata atlântica. Era fruto de reforma agrária e, por conta disso, sua venda era ilegal mas, diziam por lá, que todos que haviam recebido essas terras do Incra estavam vendendo a qualquer preço, pois eram pessoas pobres e não tinham recursos para tocar qualquer atividade por ali. Fomos ver a terra e ficou uma grande vontade de comprar, mas não éramos dados a cometer essas irregularidades.

Quase compramos um terreno perto de Atibaia. Era bem interessante, nele corria boa água, havia muitas árvores, tanto nativas como frutíferas plantadas. Deveria ter uns 10 mil m², se não me falha a memória. Ocorre que estava no meio de outras propriedades e não tinha um acesso por estrada ou mesmo uma servidão consolidada. Desistimos.

Em Ibiúna nos enveredamos mato a dentro em busca de um bom terreno, sempre acompanhados de um corretor afoito para nos fazer comprar. Um deles nos apresentou um pedaço de terra bastante interessante, coberto por vegetação nativa: Mata Atlântica. O vendedor dizia: vocês podem derrubar até 80% das árvores para construir a chácara. Desistimos, isso nunca, queríamos plantar não derrubar árvores.

Em outra ocasião, estivemos mais uma vez em Ibiúna. Fomos levados para o alto de um morro, uma imensa pirambeira, onde havia uma casa pré-fabricada e muito mato. Gostei, mas K. fez cara feia. Era um empreendimento abandonado. Alguém havia começado a formar o sítio e parou. Por que seria? Havia um poço bastante fundo, ainda não terminado e aparentemente sem água. Como era em cima do morro, talvez o acesso à água fosse a limitação do lugar. Uma chácara sem água é certeza de um fracasso colossal. Algum problema tinha ali e K. vetou e pronto, enfiamos a viola no saco e voltamos para São Paulo. Era mais um final de semana sem a decisão da compra de nosso sítio.

Um dia K. ligou no meu trabalho e disse: achei nosso sítio, estou com o recorte de jornal e vamos ver no final de semana.

Um comentário:

Márcia Morales disse...

Marcos,
que história linda. E sou eu que quero escrever um livro.kkk
Vi que vc tem até os comentários.
Quando vi o que fizeram com seu blog, salvei o meu todo.kkkk
Bjs e estou muito feliz com o retorno do "Areia Preta".