terça-feira, 18 de novembro de 2008

Primavera em São Paulo - 1



Primavera lembra flores. Ou não? É estranho andar por São Paulo em plena primavera e não ver flores. Vou passando pelas ruas e da janela do ônibus confiro as árvores do caminho. Algumas tipuanas da Rua Clélia já deram suas flores amarelas e agora estão com as vagens recém nascidas. Logo elas jogarão suas sementes no asfalto ou no concreto das calçadas. Vã parida.

Mais adiante beiro o Parque da Água Branca e nada de flores, pelo menos olhando da beirada que margeia a Francisco Matarazzo e, mais triste, uma das mais belas árvores que por ali há é a magnólia-branca e elas, por algum motivo, foram secando e morreram aos olhos dos passantes. Não apenas a que está atualmente morta e exposta, com suas folhas secas ainda penduradas nos galhos, tristemente suspensos sobre a calçada da Francisco Matarazzo, mas também outros exemplares que havia dentro do Parque. Árvores de crescimento muito lento, as magnólias deviam ter entre 20 a 30 anos, no mínimo. Será que foram vítimas de alguma doença que só ataca essa espécie? O que sei é que se estivessem vivas elas estariam enfeitando com perfume e flores esta primavera.

Entramos por baixo do Minhocão e aquele lugar é uma lástima no que se refere a plantas. Uma ou outra árvore vive ali, apertada entre o elevado e os prédios. Ao passar sobre a Avenida Pacaembu dá para ver de relance dois resedás botando suas belezas rosas para fora. Nada mais que isso.

Em seguida está a Praça Marechal Deodoro, que foi recém reformada, mas só tem ficus benjamina, árvores cujas flores são, de tão pequenas, quase invisíveis. O ficus é bonito, fica o ano todo verde, brilha, mas um jardim só com essa espécie fica um pouco lúgubre, principalmente porque ele cresce muito. No caso desta praça, para complicar, eles foram podados radicalmente, o que tirou sua forma natural. Portanto, independente da reforma, essa praça continua triste.

A São João é inexpressiva quando se pensa em árvores, não há nada ali que atice os sentidos. Vemos algumas sibipirunas, uma delas expondo suas flores amarelas. À esquerda, passamos pela Praça Júlio Mesquita, com árvores muito altas para pouco terreno. Ali também nem vestígio de flor.

Finalmente chega a Praça da República e procuro alguma árvore com floração. Vejo apenas uma, distante, lá no meio, flores rosas. Seria um resedá-gigante (Lagerstroemia speciosa)? O ônibus passa rápido e fico na dúvida.

Parece que todos os ipês amarelos, roxos, rosas e brancos, as tipuanas, as bauhínias, os jacarandás-mimosos e as quaresmeiras já deram suas flores, antes ou no comecinho da primavera e agora estão produzindo suas sementes, inútil gestação nesta cidade sem chão de terra.

Será que a arborização de São Paulo não foi feita para florir na primavera? É por conta da escolha das árvores que isso acontece? Ou será que aqui as estações são assim mesmo, mal definidas e devemos desligar primavera de flores?

A fertilidade das terras de São Paulo é excelente. Aqui, realmente, tudo o que se planta dá. Se houver vontade política e coletiva podemos ter uma primavera muito mais florida do que temos hoje por aqui.

Um comentário:

Márcia Morales disse...

Marcos,
sabia que vc ia nos presentear de novo.
Obrigada por vcs existirem na minha vida e deixar meus dias ricos de coisas lindas.
Bjs